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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

First days in Germany

30.08 Um rápido desenho antes de sair de Xanten e em pouco mais de 30 km encontrei Kurt em frente ao Grosse Markt, Rathaus com sua barba branca e olhos azuis. Foi ele quem me sugeriu a rota de Amsterdam a Köln, seguindo pelo rio Reno. É membro da rede CouchSurf que reúne viajantes de todo mundo que oferecem e solicitam um lugar para pernoitar uma ou duas noites durante uma viagem . Me contou as histórias da pequena Rheinberg, a pequena cidade onde nasceu a bebida Underberg e onde nasceu Claudia Schiffer. Consegui fazer alguns rabiscos depois de uma deliciosa pausa para uma tradicional torta de maça. Seguimos juntos de bicicleta os 40km até Duisburg.

Duisburg é uma cidade que integra a vida agrícola com uma forte história industrial. Visitamos uma antiga fábrica de aço que hoje é um centro cultural que preserva a biografia da indústria na região.

Em sua casa preparou um tipo de ravióli servido numa sopa e conversamos bastante. Ele mora num flat pequeno para onde mudou depois que se separou e ofereceu o seu quarto para me acomodar. Achei demais mas era isso mesmo. Ele passou as duas noites que fiquei em Duisburg dormindo num colchão no quarto ao lado.escritório. Nada mal entrar na Alemanha recebido por um ciclista de 61 anos que nasceu abraçado com a bicicleta. Tomamos uma cerveja com sabor limão. Acreditem. Esse negócio vai chegar no Brasil qualquer hora. Não é ruim. É diferente. Meu cérebro demorou para entender se era limonada ou cerveja.

31.08 Na noite anterior, depois de visitar brevemente um Dojo de Aikido localizado por Kurt comemos uma pizza na rua e voltamos para casa. Acordei por volta de 10h e ele não levantava. O esperei para fazermos o desjejum mas nada. Fiquei preocupado e pois ele não se movia e não mudava de posição. Às 12h eu cheguei mais perto para ver se ele respirava. Ufa! Sabendo que ele estava vivo eu peguei minhas coisas para passear pela cidade, comer algo e deixei um bilhete comunicando que voltaria às 16h. Ao voltar ele estava todo lépido de novo e disse que foi a pizza que destruiu a noite dele. No final do dia pude agradecer pela generosidade desde as primeiras trocas de email via Couchsurf. O convidei para jantar e ele escolheu um fantástico restaurante thailandes onde comemos divinamente por um preço justíssimo!

01.09 Quarta feira. Dia de pegar a estrada novamente com destino Bonn. Planejei pedalar 100 k até Köln e pernoitar por lá pois o compromisso em Bonn seria apenas no dia seguinte. Kurt me acompanhou até um ponto do Rheno e imprimiu todas as direções para facilitar a chegada em Köln e Bonn. Antes de partir ele puxou um livro da estante. Um livro para crianças com mensagem de gente grande. Wie schon ist Panama. O livro conta a historia da amizade entre um pequeno urso e um pequeno tigre. Juntos eles decidem viajar para o Panamá e descobrem muitas coisas no caminho. Percorri o caminho do Rheno e algumas vezes peguei a rodovia B9. Calma. Pegar rodovia aqui significa ganhar tempo apenas. Há ciclovia em todos os trajetos que se escolhe pedalar por aqui. A escolha é mais natureza , o que significa mais curvas ou mais economia de tempo, o que significa viajar em linhas retas sem paisagens tão exuberantes como ao longo do Reno.

Na chegada em Köln no final do dia, recebi a mensagem de Thomas Christaller que seria bem vindo em seu Dojo até as 21h para pernoitar por lá. Peguei um trem local e me acomodei com minha bicicleta no final de um dos vagões. Foi uma viagem de pouco menos de uma hora. Seguindo as direções impressas por Kurt cheguei ao Lebenskunst um lugar dedicado ao Aikido, Yoga, Feldenkrais, Iaido e meditação Zen. Thomas foi durante muito tempo diretor de pesquisa em centros de inteligência artificial e robótica. Hoje aposentado, esta dedicado integralmente a esse lugar. Sabine é sua parceira nesse projeto e me fizeram sentir-me em casa no Dojo. Alforjes retirados da bicicleta e fomos para um pub tomar uma cerveja e conversar. Em pouco tempo aquela sensação de ter encontrado um irmão antigo. O pub fechou e a fome bateu. Thomas me convidou para conhecer um restaurante espanhol maravilhoso. Lá dividimos uma paella valenciana, vinho e a essa altura já éramos amigos de infância! O melhor de tudo é terminar a noite e voltar tranqüilo de bicicleta, sentindo o clima frio no rosto e o silencio da cidade. Adorei Bonn e tem algo de calmo e saudável por aqui.

02.09 Thomas me apanhou no Dojo para nosso breakfast e conhecer um pouco da cidade. Numa loja de eletrônicos tocada por uma família turca adquiri um celular local e comprei uma conexão para usar o netbook que trouxe comigo. Daqui para frente estou com acesso mais independente e podendo acessar a internet com mais facilidade. Seguimos para um dos seus favoritos cafés em Bonn e não contamos com Sabine que estava gripada. Ela e a filha. Até o momento do treino no fim da tarde pude pedalar pela cidade e sentar um pouco para desenhar. Almocei numa praça central, nova Kölsch e alguns rabiscos em frente a Catedral San Martin . Voltei para o treino das 5h. E das 6h. Treino bom, poucas pessoas, dogi emprestado, aikido sutil, forte e boa atmosfera. Terminamos a noite no Vapiano, uma cozinha italiana com clima alegre, novas conversas e cama. De noite conversei com Daia via skype. Matamos a saudade depois de uma semana fora de casa.

03.09 Dia de voltar para Köln e seguir viagem. Sabine logo teria uma sessão de Feldenkrais e optei por fechar os alforjes e sair cedo do Dojo. Thomas me sugeriu sentar um pouco no Café Gestrado, próximo da estação para um ultimo momento antes de tomar o trem. Tempo para escrever um pouco e tomar um expresso machiatto doppio. Um lugar sofisticado e barato para me despedir de Bonn. Na plataforma, sossegado descubro que aguardava o trem longe do vagão para bicicletas. Esbaforido para não perder o trem, corri com para acessar o primeiro vagão e relaxei. Até o funcionário do trem me pedir o ticket para o embarque da bicicleta. Esta aqui ó. Este aqui é o seu, eu quero o ticket da bicicleta. Tudo isso em alemão e com clara falta de paciência com o passageiro atrapalhado. Eu pedi orientações na compra do ticket e achei que estava tudo ok. Da próxima vez vai ser diferente.

Em 20 minutos estava novamente em Köln. Haveria um evento especial esta noite. Rosmarie Scheibler receberia o seu certificado de instrutora após 7 anos e 3500 horas de treinos. Dirk e Rosmarie estavam no no Aikido Üben Dojo quando cheguei e me deram as primeiras instruções sobre o espaço. Em pouco treino começou o treino com cerca de 40 pessoas. Muitos convidados chegando pois era um dia de celebração. Curiosidade: todos, inclusive Dirk Sensei , de faixas brancas. Gostei do silencio, da simplicidade e do esmero de todos em praticar as orientações do treino. Com todos com quem treinei, especialmente com Christina e Iris, senti uma fortes sintonia. Depois vim a saber que a primeira é co-autora do livro que acaba de lançar e a segunda era sua esposa. O treino terminou com um banquete e instante de emocionada fala de Rosmarie. Não entendi lhufas das palavras, talvez uma aqui outra ali. Mas existe uma linguagem não verbal que fala mais alto. E ouvi a gratidão dela por seus parceiros de treinos nestes 7 anos, seus pais que estavam lá e seu professor, Dirk. Foi lindo. Terminamos a noite num Pub delicioso por perto. Baunstelle. Uma brewerie, ou seja, um lugar que produz a sua própria cerveja e um clima que me lembrou Vila Madalena ou Santa Tereza.

04 e 05.09 Fim de semana em Köln. Dirk e Iris me apanharam no sábado de manhã para nosso breakfast na cidade. Sentamos num café ao ar livre com vista para a famosa Catedral. Deliciosa conversa sobre rios, pontes e torres. Dirk tem um trabalho belíssimo contruido ao longo de uma trajetória de 35 anos dedicada ao Aikido. Fantástico. Subimos os 150 metros da catedral e lá de cima arrisquei um rabisco da vista do Reno e da Igreja San Martin. Almoçamos numa famosa cervejaria e não conto o que pedimos em respeito aos meus amigos vegetarianos. Mas era bão demais!! Nos despedimos no meio da tarde e fiz umas comprinhas: um pequeno estojo de aquarela, um pincel e uma lembrança para os meus pais, água de cologne 4711 e uma cruz em metal com dizeres que pude entender em alemão, ich bin der Weg – eu sou o caminho. Acho que meu pai que é super religioso vai curtir. Numa livraria um presente para o novo amigo, o livro sobre a amizade entre um pequeno tigre e um pequeno urso. Claro!

No domingo, novo encontro. Dessa vez com Christina, a co-autora do livro de Dirk, e seu namorado Helmann que viveu 3 anos no Brasil e descobrimos que fomos vizinhos pois ele morou na Vila Gomes, próximo à USP. Novas conversas, companhia deliciosa, afinidades, risadas e passeio resto da tarde vagueando pela cidade velha de Cologne. E descobri que minha câmera fotográfica, talvez enciumada com meu carinho pelo moleskine, pifou de vez. Duvida: compro outra ou assumo o desenhar como os únicos registros da viagem ... acho que vou comprar uma baratinha por aqui.

Amanhã cedo pego o trem para Berlin onde chegarei às 15h17.


2 comentários:

  1. Zé... muito bom ler os seus relatos e relembrar como é mágico viajar em bicicleta. Ai que vontade!

    Quantas histórias incríveis em tão pouco tempo!!! Vamos querer ouvir todas quando você voltar!

    Ahhhh... também bebemos essa cerveja com limão e, confesso, detestamos! hehe

    Beijos e boas pedaladas!
    Evelyn e João

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